Thursday, April 29, 2010

Planta em prantos

Uma planta fazia a fotossíntese bem sossegada - fortes raios de sol atravessavam a vidraça do apartamento. Surge um gato e começa a mordiscá-la. A planta tenta gritar, mas não consegue. O gato só queria atormentar seu dono, que gostava daquela planta e estava lhe dando atenção demais em sua felina opinião. Pois a planta se enlaça no gato e o aperta até ele estourar, sujando tudo ao redor. Em pânico, o dono da planta, que também gostava do gato, fica estapafúrdio: desconhecia aquele poder de sua flora local. Senão já tinha mandado tudo embora. Ele não gostava de violência.
Abriu um livro de salmos e começou a ler para a planta. Esta, ao ouvir as mais belas histórias bíblicas, foi catando os pedaços do gato, juntando e colando tudo com seu visgo mágico. Ficou uma porcaria, era uma massa desforme de carne, pêlos, ossos e clorofila. Mas o dono da planta, do gato e do apartamento, tinha um olhar muito artístico praquele tipo de manifestação. Inscreveu a planta no concurso de performances da galeria Vermelho. Todos lá acharam muito interessante a proposta que dialogava com a contemporaneidade de forma violenta e original, então dispuseram um horário em sua grade de performances para que fosse feita a apresentação da planta. É claro que chegando lá, o público viu apenas um vaso com uma planta e um monte disforme de carne podre e não entendeu nada. Mas ninguém tecia comentários negativos, incensando assim a fama de lugar transgressor e iconoclasta da galeria.
Hoje em dia, o dono do apartamento se mudou pra Dallas e tenta cultivar plantas menos agressivas. Tem apenas um braço, pois o outro fora esmagado pela planta quando ela leu uma crítica negativa à performance no jornal Folha de São Paulo.

1 comment:

Coala Fumegante said...

Que bonito Rodolphis! O que uma entresafra de trabalho não faz com a criatividade das pessoas! Quase tive um troço...