Tuesday, February 27, 2007

Uma flôr para meu amor

Sim, Gorjo. Eu o amo. Mas Têniz, você não é deste planeta... Então não o amo mais... O.K.

No barco, pouco se olharam. Uma lágrima parava no olho de Têniz. Ela massageava os joelhos enquanto olhava para baixo. Seus sapatos sujos da lama pútrida do terreno baldio pesavam e a chuva gelada que caía deixava o clima triste. Mas Gorjo estava radiante: em breve receberia sua medalha. Sua tão merecida medalha, pela qual ele daria a vida. Estava até bobo, de tão feliz. Ficava pulando e fazendo micagens. Têniz o empurrou para fora do barco quando ele se inclinava para testar a temperatura da água. Ele caiu e ficou para trás, enquanto o barco avançou para a barragem. Como e margem era muito distante, e a barragem mais ainda, Gorjo deveria ter se afogado logo, pois não podia nadar. Mas ficou agarrado a um pedaço de sabão bem grande e, remando, alcançou uma ilha habitada por animais ferozes que o devoraram. A última lembrança de Têniz naquele domingo foi a marca lamacenta de sua bota estampada na bunda de Gorjo, que tinha um rabinho de porco.

Wednesday, February 14, 2007

Surpresinha

O camburão estava parado havia uns 20 minutos. Alguns barulhos próximos do lado de fora, mas nenhum que parecesse com algo que tivesse atenção em mim. Aliás, em nós. Me pegaram na rua enquanto estava pagando o estacionamento e me arrastaram para a traseira da veraneio com o vidro pintado de preto. Lá dentro não dava pra ver nada, mas senti algumas pernas e percebi a presença de mais duas pessoas no camburão que logo se pôs a correr. Tentei falar com elas quando, então, percebi estar amordaçado. Uma das pessoas, em pânico, chorava copiosamente. Era um choro de mulher. A outra pessoa se mantinha quieta, mas dava pra perceber que estava acordada e nervosa. O trajeto do camburão foi cheio de chacoalhadas bruscas e curvas em alta velocidade. Cheguei a bater meu rosto contra o teto. Quem será que tinha me dedurado? Como era possível que alguém tivesse descoberto o que eu fiz? Tudo tão planejado... Ouve-se um grance coro do lado de fora: Três, dois, um!! A porta de trás da veraneio se abre. A luz me ofusca e quase não se vê nada. Centenas de pessoas batem palma. Uma morena tetuda me pega pelo braço e leva para o meio do palco. Aos poucos os olhos vão se acostumando e consigo reconhecer o sorriso de Augusto Liberato. Ele dá risada e me diz: olha tudo que você ganhou! Tá feliz? Olhando em volta, móveis e eletrodomésticos novos. A platéia aplaude. Esboço um sorriso de alívio. Esse pessoal é demais, viu.

Tuesday, February 13, 2007

O povo no poder

O povo tomou o poder e aí o leite azedou. Tudo desandou. As ruas fediam. Os bueiros encheram de ratos. Os sapatos apertaram e o suor cheirou pior. Os desodorantes venceram! Viva os desodorantes e depois do banho. Aleluia, o povo te ama!

Monday, February 05, 2007

Higiêne

Garçon, tem um pentelho na minha comida! Com licença, senhor. Deixe-me ver... Olha, o senhor nos perdõe, mas está conforme o pedido. Pediu uma xotinha depilada, mas não falou nada quanto ao cú! A, sim, mas em São Paulo sempre depilam a vagina e o ânus. O atendimento, fora de São Paulo, é terrível. Bem, posso levar de volta e preparar novamente. Sim, por favor. Ei, psiu. Veja só o meu prato. Pedi uma xereca mulata e me trouxeram esta morena bronzeada. E olha aqui dentro. Não sei o nome dessa coisa branca, mas prefiro não colocar a boca nisso. A, isso aí não é nada. Pode meter a boca tranquilo.