Friday, December 12, 2008

Parabéns aos organizadores

Há uma cena num filme (A festa nunca termina) que conta que a determinada altura da história da balada as pessoas aplaudiram o DJ. O DJ, tirando todas as possibilidades de mixagem mirabolantes que ele pode fazer, ainda mais naquela época meio distante, era mais considerado um organizador de músicas. Ele não era um músico, era um disponibilizador de músicas - de informação. Lembrei dessa história ao ver pessoas agradecendo a um cara que disponibilizou uma música do Frank Zappa no YouTube. As pessoas estavam parabenizando o rapaz que ofereceu essa música ao mundo conectado. O rapaz provavelmente não é músico, mas estava sendo ovacionado pela oportunidade que ofereceu. Muitas vezes, é mais importante que a informação o veículo que a propaga. Mais importante que o artista, o propagador. Tá bom, vai, o propagador não precisaria existir sem o artista; mas avalio a importância de um ou de outro pensando nos extremos: um artista medíocre com um grande veículo de propagação de sua arte versus um artista excepcional com uma propagação ruim de seu trabalho. E é importante a divulgação? Um trabalho de arte pode existir num canto esquecido e escuro de um quartinho úmido, mas aí nem considero arte. Porque não conheço.

Friday, November 07, 2008

Só pra eu mesmo lembrar

As obras visuais discursivas podem ter afinidades poéticas que podem ser comparadas às figuras de linguagem da literatura, como a metonímia, metáfora, etc. Como diz o título do post, só pra eu mesmo lembrar... E Nuno Ramos (com Arrigo Barnabé) fala disso em http://www.radarcultura.com.br/node/28196

E agora uma historinha...

Um dia, morrendo de fome, Nabor pediu uma grana à sua vizinha, que lhe fez um cheque. Os bancos estavam fechados e a fome era urgente; então Nabor pediu que sua vizinha trocasse o cheque por dinheiro. Ela trocou, mas não na moeda local. E perguntou quando poderia depositar o cheque. Mas Nabor precisava de dinheiro para viajar até o local onde aquele dinheiro valia, e pediu que sua vizinha lhe desse mais dinheiro. Claro que ela negou, Nabor estava muito folgado. Era resultado da fome isso, ele não costumava ser assim. Tinha uma educação muito formal, era polido. Então Nabor tentou ir caminhando até o país vizinho, onde o dinheiro que sua vizinha lhe dera era válido. Mas no meio do caminho morreu de fome, sendo devorados por urubus carniceiros, que nem estavam com tanta fome assim.

Sunday, August 24, 2008

Recomendações

Acho muito bom quando no trote da rotina eu tropeço em algumas coisas que me fazem acordar pra ver que existe sim informações importantes no mundo. Recomendo aqui duas que fizeram esta última semana da minha vida ter um gosto de alumínio.
As músicas de Matthew Herbert. Que se ouve aqui.
As pinturas de Flávio Shiró. Que podem ser vistas no Instituto Tomie Ohtake até setembro deste ano.

Na minha opinião a arte deve provocar os sentidos de forma a acrescentar informações. Na verdade não são essas informações importantes, mas as transformações que elas acarretam que fazem os seres terem aumentada sua capacidade de organizar as informações sensoriais que vão recebendo na rotina diária. E com o monte de informação que tem jorrado julgo ser cada vez mais importante um instrumento que ajude a filtrar tudo isso. É a arte.

Friday, June 13, 2008

Poema

Fiz esse poema sentado na fonte do hotel Jaraguá inspirado pelo mosaico do Di Cavalcanti enquanto esperava minha cônjuge no dia dos namorados.
O amor cego
como um morcego
usa o radar
para - rá - dar

Depois fui comer em um restaurante que existe desde 1881 mas que ninguém lembra que existe.
Chama Carlino, e lá comi o melhor ravioli da minha vida.
E hoje tomei um dramim. Por isso estou assim...

Monday, April 14, 2008

Segundo roteiro para filme pornô

O emprego do desejo

Chega um homem de roupa social, bem arrumado, inexpressivo, em uma sala de divisórias de fórmica. É recebido por uma secretária, também inexpressiva, em uma sala onde aguardam mais um homem e duas mulheres - igualmente vestidos de maneira sóbria - lendo revistas velhas, sentados nas poltronas enfileiradas da sala de espera. A secretária anuncia que em breve serão chamados para a entrevista. É uma sala simples, com janelas espelhadas de um lado e fechada com portas de fórmica. Uma música ambiente toca baixinho e em uma das paredes tem uma placa com um nome de agência de empregos.
A secretária sai da sala e deixa os candidatos sozinhos. Entra na sala adjacente e diz: pronto, doutor. Chegaram todos. É uma sala escura, cheia de luzinhas e botões. O doutor começa a falar sobre sua experiência de aumentar a temperatura, lançar uns raios que ele inventou e mudar a música para alterar o comportamento das pessoas. O doutor é um tipo meio amalucado, cientista louco. Ele começa a mexer nos botões de seu equipamento: aí, vê-se que a luz da sala de espera vai se tornando avermelhada. A música ambiente muda. Os homens começam a afrouxar as gravatas. As mulheres desabotoam suas blusas. Começam comentários: está calor aqui, né? - todos permeados por imagens do cientista mexendo nos botõezinhos. As mulheres começam a se olhar lascivamente, mas tentam se conter. Os homens comentam sobre as mulheres. Todos estão incomodados com a situação, mas apenas se mexem nas cadeiras e se olham e se abanam. Até que, após uma cena do cientista girando um botão, uma das mulheres mira fixamente um dos homens, vai até ele, senta em seu colo e desfere um beijo em sua boca. A partir daí, é pura metelândia com cenas do cientista e da secretária fazendo anotações em pranchetas e depois, o cientista mesmo, não aguentando o clima, ataca a secretária e ela tenta se esquivar. Até que ela desliga o equipamento. Nesse momento, as pessoas da sala de espera tomam um grande susto - a luz da sala de espera passa repentinamente de vermelha para branca, o som ambiente silencia -, se vestem rapidamente como podem, pedem desculpas umas às outras e vão embora envergonhadas e constrangidas.

Monday, March 31, 2008

Primeiro roteiro para filme pornô

O anel mágico número 2

O homem entra na sala sóbria de óculos escuros e terno. Uma recepcionista tímida o anuncia dentro de uma sala escura, onde é convidado a entrar. Um homem idoso sentado em uma poltrona fica de costas: - Sente-se. Chamei-o porque soube que age com discrição - blábláblá - uma conversa curta e o homem que estava na poltrona se vira e anuncia que quer que os consigam o anel mágico, que fica com a dona Y. Para consegui-lo, terá que seduzi-la e passar pelas suas guarda-costas - mostra fotos de todas. Para ajudá-lo, o mandante da missão dá o anel mágico número 1. Com ele enfiado no dedo, basta que um homem pressione este dedo no ombro direito de uma mulher que ela ficará totalmente tarada por ele. Aí o rapaz têm dúvida, acha que é mentira e quer ir embora. O homem que presenteou o anel fala: faça um teste - e pelo telefone: Dona M, sirva um café para o rapaz que terei que dar uma saída rápida. Se quando eu voltar o anel não estiver sobre a minha mesa, entenderei que aceitou minha missão - e sai.
Daí em diante o filme é uma metelândia só com o rapaz papando primeiro a recepcionista, depois as 2 guarda-costas e então enrabando o alvo principal (tem que ser enrabada para fazer a metáfora do anel roubado).
Depois de cumprida a missão, em posse dos 2 anéis, o rapaz volta para o escritório do velho que, feliz, coloca um anel em cada dedo de uma mão e se transforma em um homem bem mais novo. Funcionara o anel mágico. Então ele diz: agora vá amanhã para esse endereço para pegar seu pagamento. É claro que além de bastante dinheiro, rola uma orgia com o ex-velho e nosso herói pegando várias mulheres. Final feliz.

Friday, March 14, 2008

Fragmentação

Para que fazemos as coisas? O trabalho tem atrapalhado a produção. A escola tem atrapalhado o aprendizado. Então essas instituições não estão ajudando a humanidade. Comer tem atrapalhado a digestão. Então é melhor não fazer isso.
Melhor é fazer tudo isso com consciência. Mas trabalhar com consciência pode significar não trabalhar por algum tempo. Ou trabalhar por dias seguidos. Por vontade própria. Não quero falar na interpretação de consciência como responsabilidade. Porque a responsabilidade tem o peso do medo. E trabalhar sem medo é uma aventura pouco explorada.
Um problema é as instituições fazerem de coisas extremamente prazerosas, como aprender e produzir, se transformarem em tarefas árduas. É natural do homem aprender, se interessar, buscar mais conhecimento. É natural também aplicar esse conhecimento, fazer coisas, imitar a natureza ou fazer ferramentas que ajudem a imitar a natureza.
Houve um tempo em que o pensar, o fazer e o sentir tinham igual peso.

Saturday, January 26, 2008

Articulações e aproximações

A comunicação se faz (também) quando os símbolos usados na expressão do emissor são comuns ao receptor. Estabelece-se a comunicação usando-se palavras e imagens que já foram apreendidas pelos destinatários da mensagem. Essas palavras e imagens, quando não compuserem toda a mensagem isoladamente, têm que estar associadas de uma certa maneira para obtermos o sucesso na comunicação. Assim formam-se palavras, frases, histórias. Existe também o uso dos símbolos comuns como mera forma de expressão. E como excitador do cérebro como receptor de informações que não necessariamente vão passar por etapas de cognição. Aí entra a arte.

Tem-se como elemento essencial à comunicação a articulação - ligação dos símbolos com outros para evocar o pensamento. A comunicação sem essa articulação é apenas expressão (Fischer.Ernest - A necessidade da arte).

A arte como mera expressão pode ser produzida por qualquer pessoa.
A arte como mera comunicação é produzida por qualquer um que saiba representar símbolos em qualquer suporte.
A arte como veículo de transcendência dos sentidos e informações é produzida por artistas.