Sunday, May 02, 2010

Vida seca

Em um varal desses que vai de prédio em prédio, que nem existe no Brasil, tinha um tucano e 3 pardais. Eles eram de plástico e serviam pra enfeitar o local porque turistas gostavam de ver estas baboseiras penduradas naquela região. Mas atrapalhavam muito o trabalho da dona Gilberta, que era lavadeira e precisava pendurar suas roupas naquele varal que já nem comportava o tanto de toalhas de mesa que precisavam secar até a segunda-feira, quando o restaurante iria abrir de novo.
Naquela região sempre soprava uma brisa que fazia com que as roupas secassem muito rápido e isso era vantagem pra Gilberta. Mesmo assim ela não dava conta de pendurar as roupas de pouco em pouco e teve que comprar uma estufa pra secar logo as cuecas borradas do doutor Paulo. Este era um grande cagão, mas pagava muito bem para ter suas roupas lavadas, então não havia como negar aquele trabalho sujo. Geralmente Gilberta usava o bico do tucano pra pendurar uma cueca borrada e aquela cena acabava por espantar alguns turistas. Um conselho de peritos de uma ONG que promovia o turismo sustentável naquela parte do Brasil decidiu, então, punir o doutor Paulo e dona Gilberta. Levaram-nos para o meio do mato e lhes desferiram chicotadas nas costas e pernas enquanto cantavam o hino daquele estado que dependia tanto do turismo. Foi uma atitude meio radical, mas não poderiam deixar aquele exercício de Gilberta e Paulo prejudicar toda uma região. Logo os dois se juntaram para defender a liberdade de pendurar cuecas borradas onde bem quisessem. E a cueca borrada virou símbolo de liberdade, sendo usada como capuz pelas crianças da rua e pelas donas de casa enquanto iam à feira. Aquilo sim espantou os turistas...

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