Monday, June 14, 2010

Desmanche

O garotinho estava na idade de desmontar todas as coisas. Os pais eram engenheiros mecânicos e achavam aquilo uma graça. Mal tinham tempo pro garotinho, estavam sempre ocupados com suas pesquisas e seus empregos em empresas de fabricação de foguetes. O Marcinho era cuidado pela babá, que ficava assombrada com tudo aquilo, mas que recebera ordens de deixar o garotinho desmontar o que quisesse. Após alguns meses, os pais começaram a achar aquilo meio chato porque o pivetinho já tinha desmontado o interfone, o telefone e os despertadores. Depois de mais um tempo ele desmontara a geladeira e o microondas. Por último, as televisões - e bem no dia do resultado final da Tele-Sena de Ano Novo. Deram uma surra no Marcinho e o trancaram na garagem. Ele desmontou os carros... Arrancaram-no da garagem e o jogaram em um saco plástico e puseram na rua. Ele foi apanhado pelos lixeiros, que o jogaram na frente de um ferro-velho. Lá, tudo já estava desmontado e ele só montava as coisas. Construiu um robô, claro, com laser e metralhadora de parafusos. E foi visitar os pais. Mas eles tinham se mudado para um prédio muito protegido por robôs. Foi uma grande luta, Marcinho estava determinado a dar uma surra em seus pais. Mas um robô o atingiu com um machado laser e ele morreu. Os pais foram indiciados por maus-tratos ao Marcinho e pegaram 7 anos de detenção em uma cadeia onde ficavam desmontando as grades, mas sem fugir. Só gostavam de assombrar aos carcereiros que, pela manhã, viam as grades das celas, todas, ao chão. Resolveu-se jogar os prisioneiros em sacos plásticos e colocá-los no lixo - pois alguns companheiros de reclusão fugiam naquele soltar de barras. Os lixeiros os recolheram e jogaram na frente de uma fábrica de foguetes, na Coréia do Norte. Lá eles foram recolhidos, interrogados e utilizados na fabricação de fertilizantes.

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